domingo, 11 de novembro de 2012

Canto: Respiração e Ressonância


A produção da voz ocorre quando uma coluna de ar, é emitida de forma homogênea que, ao atritar com as pregas vocais, produz o som. Para que isso ocorra, é necessário uma coordenação motora eficaz entre o corpo (relacionada com as questões físicas do canto, como respiração, afinação dentre outros) e a mente (relacionada com a interpretação, e a emoção a ser transmitida). O primeiro passo para alcançar esta coordenação  é desenvolver a respiração costo-diafragmática abdominal, pois permite a expansão harmônica de toda a caixa torácica, sem excessos na região do pescoço e maior aproveitamento de toda a área pulmonar e, por isso, mais eficaz para o desenvolvimento de uma voz profissional. Para realizar esta respiração é necessário em um primeiro momento, provocar uma "barriguinha" no momento da inspiração, ou seja, no momento em que o ar entrar no pulmão. Para isso também será utilizado o músculo reto-abdominal (ver abaixo), afrouxando-o, relaxando-o no momento que o ar entrar. Quando o ar estiver sendo expelido, uma leve contração dessa musculatura deve ser provocada, como que colocando a "barriga" leve e gradativamente para dentro. Esse é o primeiro treino para que a musculatura se acostume para o movimento da correta respiração, que depois de um certo tempo, deverá se tornar automática.

Fonte da imagem: http://www.afh.bio.br/resp/resp2.asp 



Fonte da imagem: http://revista.tudosobrepilates.com.br/2012/05/14/os-musculos-abdominais-quem-sao-e-como-trabalhar/ 

Para a produção do som, as pregas vocais se fecham e a pressão do ar faz com que elas vibrem gerando um som que é voz. A voz, sobe e ressoa no crânio e o conjunto diafragma, traqueia, pregas vocais, boca e cabeça é o que permite esse instrumento funcionar corretamente. Quando alguma dessas partes não funciona corretamente, temos uma voz defeituosa. Vale ressaltar que todo o crânio funciona como um amplificador do som, pois possui espaços vazios e perfurações que permitem que o som ganhe volume. De acordo com o tipo de repertório, temos diferentes tipos de ressonância. Em outra postagem comentarei sobre isso, mas vale a pena tomar conhecimento dos locais onde ocorrem no crânio através da figura abaixo:

Voz de cabeça = ressonância alta: partes da música, ou música mais agudas 
Voz de nariz e voz de dentes = ressonância média: partes da música ou músicas que mais se aproximam da região da fala, região mais confortável para cantar.
Voz de nuca e voz de peito = ressonâncias graves: parte da música ou músicas em que a voz tende a se tornar mais "escura".


Fonte da imagem: http://vozdelisboa.blogspot.com.br/2011/12/colocacao-de-voz.html 

Somente quando há uma sincronia de todos os sistemas envolvidos na produção da voz é que ela é emitida corretamente. O som da voz quando alcança esse padrão é portanto, conduzido para as cavidades de ressonância e a voz alcança uma ótima qualidade, com bons harmônicos e sem tensões porque está sendo emitida de forma saudável.


Referências Bibliográficas:

1 - AMATO, R.C.F. Voz, pneumologia e fisioterapia respiratória.investigação interdisciplinar
sobre a configuração tóraco-abdominal durante o canto lírico. IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais, maio 2008. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dl/simcam4/downloads_anais/SIMCAM4_Rita_Fucci_Amato.pdf.

2 - GOULART, D.; COOPER, M. Por todo canto - método de técnica vocal.

domingo, 7 de agosto de 2011

AQUECIMENTO PARA CANTORES

 Antes de tudo o cantor precisa preparar seu corpo para o ato de cantar e não somente a voz. O primeiro passo é realizar um alongamento, principalmente da região do pescoço para eliminar as tensões dessa região, pois se houver tensão a laringe ficará sem flexibilidade, resultando em tensão nas pregas vocais e, consequentemente, em uma voz sem qualidade, sem saúde.
 Os exercícios adequados são os seguintes:
1 – Gire 6 vezes para trás os ombros, bem devagar. Depois, para frente.
2 – Encoste o queixo no tórax e conte mentalmente até 10 vagarosamente; Depois para trás bem devagar, abrindo a boca bem devagar e conte até 10.
3 – Desenhe com a cabeça uma meia lua só na frente, na mesma altura que fez o exercício 2 (ao encostar o queixo no tórax).
4 – Desenhe somente atrás a mesma meia lua;
5 - Gire a cabeça para um lado bem devagar, fixe o ponto mais mais distante que consegue, sem girar o tórax; depois inverta o lado e repita o mesmo procedimento.
6 – agora sim faça o giro total em volta do corpo e bem devagar.
  Após isso, prepare sua respiração. Ao chegar ao ensaio ou aula, pode ser que por alguma razão esteja respirando de forma insuficiente para o canto. Portanto, um exercício de respiração é sempre bem vindo, até para os mais experientes.
7 - Sentado, com a coluna bem ereta e com os pés bem firmes, formando 90º com a panturrilha, coloque a mão sobre o abdome e a outra nas costelas. Procure inspirar profundamente, projetando o ar para essas regiões, ou seja, realizando a respiração costo-diafragmático-abdominal.
8 - Após colocar a respiração no lugar correto, faça movimentos mais curtos e flexíveis de forma que o abdome encha e esvazie bem rápido. Esse movimento lembra um pouco a dança do ventre. É importante nesses dois exercícios de respiração, expirar produzindo “s” bem prolongado.
Somente após isso, aqueça a voz. Muito bom para a saúde das pregas vocais, é a vibração de língua e de lábios. Pode parecer bobeira e até brincadeira de criança, mas é muito importante! 
9 - Comece sem variação de notas e vá subindo de nota em nota. Depois poderá desenvolver esse exercício com escalas.
Agora sim poderá cantar lembrando sempre da respiração e do apoio diafragmático. Do contrário, adeus voz!
Após cantar, o desaquecimento também é importante. Pratique vibração de lábios e de língua, sem variação de notas e depois sem voz, só com vibração.


sábado, 6 de agosto de 2011

CONHECENDO SUA VOZ

  A importância do auto-conhecimento vocal poderá evitar vários problemas futuros. Conhecendo os limites de sua voz, tanto para o agudo, quanto para o grave, permite um estudo dentro da sua tessitura e extensão. A tessitura, é o conjunto de notas, geralmente de uma oitava mais uma quinta, aonde o cantor emite a voz com total homogeneidade. A extensão refere-se ao limite de sons produzidos por uma voz, do grave ao agudo, mesmo além dos limites naturais de sua tessitura. Geralmente em adultos, abrange duas oitavas. Porém existem vozes que alcançam 3 oitavas.
 Assim, mesmo quem não faz aulas de canto, precisa aprender até onde sua voz irá. Uma forma de perceber se está forçando é observar se ao cantar, sente ardência na garganta, pigarro, tosse, cansaço vocal, tensão no pescoço/laringe e principalmente, se apresenta rouquidão constante ou recorrente (que vai e volta). Repare em quais notas sente que há força. 
 Após essas observações, não pare por aí, torne isso um hábito! Dê atenção à sua saúde vocal sempre, pois poderá ter vários problemas decorrentes do abuso vocal, como fendas nas pregas vocais, nódulos, edemas e outros problemas mais sérios e por isso, perder a voz.
Outro ponto importante...é muito comum o hábito de cantores desavisados imitar a voz ou o jeito de cantar de cantores que admiram. O resultado disso é que o ato de imitar provoca tensão nas pregas vocais. Cada voz é única e têm uma estrutura corporal que a compõe e que a faz soar com determinada sonoridade. A imitação provoca tensão nessa estrutura e, consequentemente, afeta a saúde vocal.
Portanto, muito cuidado!!!Sua voz é um instrumento único, trate-a com carinho!!

domingo, 31 de julho de 2011

OS TIPOS DE RESPIRAÇÃO

   A ação combinada de músculos e demais elemento da mecânica respiratória define o tipo respiratório que é utilizado. Assim, há basicamente quatro tipos de respiração:
1. Clavicular ou superior: o tórax se dilata na inspiração, as costelas se elevam e o diafragma é pouco ativo em seu deslocamento. A produção vocal é alterada pelo aporte insuficiente de ar e o som tende a ser agudo, pela elevação e tensão da laringe
2. Média, mista ou torácica: pouca movimentação superior ou inferior do tórax durante a inspiração e um deslocamento anterior da região média torácica. É mais utilizada quando em repouso ou em conversações diárias, mas é inapropriada para o uso profissional da voz.
3. Inferior ou abdominal: ausência de movimentos na região superior do abdome e expansão da região inferior. O diafragma se contrai, mas as costelas não se elevam. Não proporciona elevada pressão aérea, nem satisfatório domínio dos movimentos, daí ser impróprio para a fonação mais apurada.
4. Diafragmático-abdominal ou costo-diafragmático-abdominal: expansão harmônica da caixa torácica e abdominal, sem excesso na região superior ou inferior, possibilitando maior volume aéreo circulante, mais vigor e maior domínio das ações. A atividade docente requer resistência vocal para o uso da voz com forte intensidade e boa projeção, necessárias a uma psicodinâmica vocal que sugere autoridade e confiabilidade. Por isso o desenvolvimento da respiração diafragmático abdominal é a mais eficaz para o desenvolvimento da voz profissional.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A IMPORTÂNCIA DA AULA DE CANTO


 Este post é para defender a profissão. Algumas pessoas, erroneamente, freqüentam duas, três, quatro aulas e já acreditam saber cantar ou até que podem aprender sozinhas!!!!! Não duvido da capacidade de ninguém em aprender muitas coisas por intuição (sozinhas), mas também acredito muito mais que este estudo será melhor aproveitado com um professor de canto. Podemos sim recorrer a blogs, livros, vídeos. Porém, a orientação de quem se especializa para isso é fundamental. Por acaso, você leitor, iria para uma consulta em um médico que "aprendeu tudo sozinho" ou que diz que nasceu "sabendo ser médico"? Bom, se sim, boa sorte, mas eu não me arriscaria. Da mesma forma, cantores e músicos em geral que se preparam para isso, investem em formação, não se arrependerão. Não adianta decorar músicas, acordes sem técnica, sem o preparo vocal. Não basta ter facilidade para o ofício é necessário muito estudo para o conhecimento completo do instrumento e, no caso do Canto é o um dos instrumentos mais difíceis a ser estudado, principalmente porque estará lidando com todas as facetas do complicado corpo humano.

 Tal conhecimento, depende um auto-conhecimento diário para alcançar o som ideal. Este por sua vez, depende de vários fatores como vícios posturais que provocam tensões na voz que prejudicam o som e afetam as pregas vocais, dicção, dentre tantos outros...E, atualmente, formação é importante sim, para quem quiser realmente ser um BOM profissional. Caso a intenção seja apenas por hobby,  ainda assim será válido, pois evitará vários problemas causados pelo mau uso da voz.

 Toda essa explicação foi para justificar também, a importância da respiração correta para o cantor. Recentemente ouvi de que aprender a respirar é fácil e poderá ser sozinho. Para quem ainda não sabe, há estudos para desvendar as manobras respiratórias de um cantor ao exercer sua profissão. A pesquisa está encabeçada pela profª Rita de Cássia Fucci Amato e ela denomina esta manobra como " manobras pneumoarticulatórias". Esta pesquisa envolve as seguintes áreas: fonoaudiologia, pneumologia, otorrinolaringologia, acústica e professores de canto. Ou seja: aprender a respiração voltada para o canto, não é tão simples como aparenta. A respiração representa no MÍNIMO 60% da técnica. Ou seja: não adianta apenas ter uma bela voz, sem dominar a respiração adequada para o canto. Acredito que todos podem cantar, mas também acredito que o estudo é sempre o melhor caminho.

 Trago aqui um exemplo de uma cantora maravilhosa da nossa MPB, a Roberta Sá. Ela sempre esteve dividida entre os estudos convencionais e a música. Quando chegou na adolescência, passou a fazer aulas de canto. Entrou para a faculdade de Comunicação e continuou com seus estudos de canto quando sua professora lhe indicou para participar do programa FAMA da rede Globo. Depois disso, foi só entrega para a Música. Outra maravilhosa cantora é Marisa Monte. Esta estudou música desde a infância (canto, piano e bateria) e na adolescência estudou canto lírico. Se formos analisar a trajetória biográfica de nossos cantores, veremos que a maioria deles deve ter se deparado com um professor em algum momento. O talento pode ser nato, mas o conhecimento é essencial, pois do contrário, para que precisaríamos ir à escola desde a tenra idade?
 Encerro com link para um artigo da profª citada,  Rita de Cássia Fucci Amato para quem quiser se aprofundar um pouco mais:


terça-feira, 5 de abril de 2011

A Tecnologia e a Ópera

     Com tantos avanços tecnológicos não tinha como a arte ficar fora desse processo por muito tempo. A música  e a tecnologia estão interligadas desde a Era do rádio e, de lá para cá, essa relação torna-se cada vez mais estreita. Este post é sobre essas inovações tecnológicas na música, especificamente na ópera.
     É sabido que toda forma de arte precisa de inovações constantes e a ópera não fica fora disso. Essas inovações nem sempre se referem à tecnologia. Pode ser uma releitura, uma interpretação diferente de um trecho. Mudanças são necessárias para cativar o público e o envolver na dinâmica da trama e, muito dessa responsabilidade, fica por conta do cantor-ator. Porém, recentemente uma inovação que provavelmente representa um marco na história da ópera, dividiu essa responsabilidade com os cantores, produzindo uma incrível novidade. Trata-se de um projeto idealizado e executado pelo ex-regente titular da OSESP, John Neschiling que consistiu na produção do cenário da ópera O Barbeiro de Sevilha todo em animação. Com um telão de 6m x 8m um divertido desenho animado era projetado e interagia com os cantores. O resultado foi um cenário criativo e fácil de ser transportado. Uma nova forma de arte, introduzida dentro de outra já consolidada por séculos.

    
    O curioso é que se observarmos a história da música, os grandes feitos ocorriam através da saída dos  padrões. Pois acredito que as pessoas cansam das mesmas coisas; o novo dá a sensação de que tudo está caminhando, evoluindo. Li um artigo que citava que o público de óperas era restrito e realmente o é.  Os motivos são os mais diversos e não serão discutidos nesse post, mas...também acredito que muito desse distanciamento pode ser reduzido através de inovações como esta que só têm a acrescentar. 
      Um outro ponto interessante foi a realização da turnê dessa ópera em várias cidades do Brasil, de junho a novembro de 2010 e, em todas as cidades que passou ocorreram seções para crianças. Uma forma de cativar o público infantil e quem sabe, despertar o interesse de futuros Pavarotti`s, pequenas Maria Callas...



Detalhe: a Cia Brasileira de Ópera - corpo de músicos que participou da ópera, ganhou o prêmio 2010 da Associação Paulista dos Críticos de Artes: http://vozativamadrigal.blogspot.com/2011/03/cia-brasileira-de-opera-recebe-premio.html
Acessem o link e apreciem a reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=30qQCAu2RC0


Por hoje é só!
Bom proveito e bons estudos!

domingo, 20 de março de 2011

Hábitos e alimentos que poderão afetar a saúde vocal ou a performance vocal

O que evitar antes de cantar? Pergunta que persiste para todos os cantores e principalmente para aqueles que tem costume de realizar apresentações mais longas. Resolvi postar este tópico com algumas dicas para ajudar o bom desempenho durante apresentações e de uma forma geral, a saúde das pregas vocais. É bom frisar que o que afeta alguns pode ser que não afete imediatamente e da mesma forma a todos, pois cada organismo tem sua forma de se manifestar, porém pode ser que com o passar do tempo problemas apareçam e a prevenção  é sempre a melhor opção para esse instrumento tão valioso que é a voz!  Segue então alguns dos cuidados que tomo e que estão de acordo com as recomendações dos fonoaudiólogos para nós, cantores:

1 – Alguns alimentos devem ser evitados antes de cantar como o café, chocolate, alimentos ácidos demais, bebidas alcoólicas ou gasosas, sprays que contenham álcool ou própolis, pastilhas como Halls e de hortelã, doces em geral, leite e derivados, alimentos de difícil digestão como carne vermelha e massas.
2 – Hábitos que prejudicam a desempenho do cantor: além do consumo dos produtos acima, há algumas outras formas de levar a vida que podem prejudicar o cantor, como por exemplo, fumar (passivamente também), álcool em excesso, o acúmulo de tensões (que irão refletir na voz), noites mal dormidas, fala excessiva e com tensão, consumo de bebidas geladas, má postura, má respiração, além é claro de pouco estudo ou estudo realizado sem uma boa antecedência. Para combater tais fatos é preciso incorporar no dia – a – dia alguns pequenos hábitos que poderão fazer TODA a diferença. São eles: alongamentos para alívio de tensões e práticas de atividades físicas que poderão inclusive contribuir para uma boa noite de sono. Procurar formas de dormir bem, caso isso seja um problema. Buscar a boa postura, praticar exercícios de respiração diariamente e estudar o repertório também diariamente.
3 – Procurar sempre fazer uma alimentação mais leve antes das aulas e dos recitais. Não é para não comer e sim, comer algo mais leve. Algumas opções para substituir o leite, são os leites de soja (a medida em caixinha de 200 ml é ideal para antes das aulas e apresentações).
4 – Beber MUITA água: se possível andar sempre com uma garrafinha.


5 - Evitar o ar condicionado e poeira.

Bom, seguindo essas dicas acredito que o cantor poderá atingir um nível de conforto e saúde vocal capaz de ajudar bastante em seu desempenho. Bons estudos!